quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Natureza-morta

Alguma coisa aconteceu hoje... Não só a minha pele escamosa e ressecada que deixei na beira do rio para tomar um banho gelado e neutro, acho que o ar. Não só as unhas dos pés coloridas ou a nudez na frente do espelho, o mundo está mudando. E a água é tão densa e me transporta... O som propagado em suas moléculas mais unidas é tão engraçado... estou afundando. Ainda posso ouvir alguém gritando, mas só acho tudo engraçado e vou me deixando ficar cada vez mais molhada e envolvida pelas clorofíceas que eu amo tanto. Me sinto feliz como nunca me senti antes.




Lá, aonde o Peão se refestelava no deserto, eu vi que caiu alguma coisa. Nem procurei saber o que era, deixo as coisas caírem quando querem cair, deixo elas morrerem, como a pomba que se suicidou contra o vidro do prédio enquanto eu estava atravessando a rua. Deixo as coisas irem, e fui junto com a água pro ralo de qualquer dimensão que esclareça melhor os fatos. E aqui, aonde ninguém me vê, eu te vejo, meu bem. Esta visão privilegiada que conquistei com tão pouco oxigênio. Cabelo, espinhas, dedão machucado, posso ver tudo agora. Me sinto bem melhor, e posso dormir, finalmente vencer a insonia que veio junto com a ansiedade da trompa mal configurada.





Um comentário:

Henrique V disse...

Aqui, aonde eu estou, meu bem, eu te espero...