quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Quando eu era pequena, a minha tia tinha na parede do quarto dela um crucifixo de ferro, de algum metal escuro lá, com algumas nuances douradas, que era muito assustador para mim. Sempre tive medo da imagem de Jesus Cristo, toda aquela barba e espinhos, aquelas costelas salientes e todo aquele sofrimento. Com certeza uma das primeiras retratações históricas de como provavelmente deve ser a imagem de um zumbi. Só sei que ele ficava lá, pendurado bem em cima da cama e eu simplesmente não conseguia dormir, o crucifixo me vigiava e pesava sobre os meus sonhos. Horrível. Deus deveria ter pensado melhor com os agentes de marketing dele sobre a imagem do seu próprio filho. Muito ruim para os negócios isso, assustar criancinhas.

Um dia nos mudamos e minha tia finalmente se convenceu de que aquele crucifixo nunca salvou ninguém naquela casa e o guardou numa gaveta. Pronto, eu estava aliviada e enfim pude dormir em paz, com anjos ou demônios ou qualquer coisa mas sem aquele carinha pingando sangue na minha testa.



Enfim, as coisas se repetem.

sábado, 25 de outubro de 2008

Da jardinagem...

Eis as pérolas do meu castelo encantado









































Perdoem a fotografia e os cocôs de passarinho na sacada. :)


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Por dois caminhões e uma charrete

Enzimas calcificadas em meu fígado cansado...

Alguém seria capaz de me interpretar melhor? Sedução de cabelos transplantados...

Tombada nessa zona de simpatias e parcerias, me diga algo fácil de entender, algo que eu conheça e possa digerir suavemente. Vamos lá, seja rude contra minha pele escamosa e desprovida de proteção UV mas enalteça a luz negra do meu coração da caixa verde.

"Decepcionante mulher de sardas frescas, ela com certeza está muito bem com suas unhas cravadas em minhas costas de fanfarrão safado."

Meu dia foi daqueles que se aponta ao pôr-do-sol da janela e se diz "menos um". Mas também foi daqueles em que cada minuto se traduziu bem em pólens dispersados pelo vento. Valeu a pena mesmo assim, meu amigo... sobrevivemos, todos.




Pedante e clichê, sim. Mas belo, eu confesso.


The Arcade Fire - Intervention

Quem souber o nome do filme ganha uma macarronada da tia Bina aqui :P

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Ms. Cellophane

Ache uma palavra doce das tantas que profanei no teu ouvido azedo vegetal... Acha mesmo que não espinafrei vinhas e corticeiras na tua janela? Eu teria corrido todas as maratonas de um planeta sombrio, mas uma noite sem penumbra, sem curvas ou esquinas para tropeçar seria meu melhor presente. Claro que eu fui mesquinha e egoísta, mas de qual outra forma eu não te ensinaria a ser tão amargo e cruel com a vizinhança atrevida?

Meu bem, não me odeie. Simplesmente me despreze.


"See right through me, pass right through me and don't feel anything."

sábado, 18 de outubro de 2008

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Haptophytas...


... o que seria do enxofre sem elas?

domingo, 12 de outubro de 2008

Dias de preto & branco

No emaranhado das tentações de suco de cenoura ele diz "aposto que ela não fica" e a noite passou rápido e cá estou eu nessa nova imensidão de dunas brancas e fios ruivos. Pagando pra ver o quanto vale assim e eu penso por que estou aqui agindo como se lá fora não fosse um mar de desencontros sublimes e corações rancorosos. É provavelmente um sinal de que o asfalto desmoronou sobre meus pés e mãos atadas pelo tempo e pelo chumbo dessa codificação em massa. É assim que eu sorrio e pinto as unhas de preto fino e posso então comemorar mais um fim de semana vencido. Posso riscar meus dias na parede do hospício de "loucas desumanas depravadas e intelectuais fogosas" e meu olhar nesse espelho já não tem mais nenhuma importância.




O Apocalipse do meu amor flutuante é agora e vos digo solenemente: soltem os rojões e acendam meu cigarro.






sexta-feira, 10 de outubro de 2008


Por que estar aqui sozinha te faz tão nobre, minha amiga? Qual é o preço que se paga por uma semana? Apesar de eu estar 1000 vezes avantajada em relação ao teu tamanho, não posso fazer nada além de te observar ir e relevar que um dia isso também irá acontecer comigo.



Um dia minhas asas não irão mais abrir, meu caro, não vou mais poder voar. Um dia alguém não vai dar a mínima para minhas escamas e vai me prender em meio a alfinetes frios e indiferentes à minha liberdade tão peculiar. Enquanto isso eu aproveito a vista, dou uma sondada por aí e vou lambendo as coisas que me parecem doces...

Com certeza minhas pálpebras carregadas de preto abaxial vão melhorar o que se comenta, mas a verdade não se esconde de ninguém. Só quero estar perdida e ser esquecida no meio deste púrpura de Phlox e vou me sentir satisfeita por ter feito o melhor.




Quando está tudo caótico assim, só existe uma alternativa: pular e se livrar do desespero.




"O Sol nos engana...

...nos faz pensar que ainda é cedo."


E mesmo que ele me ilumine no box do banheiro enquanto a água tenta me deixar mais lúcida, sempre veio para estragar nossos planos. Foi traiçoeiro comigo, só não é com aqueles que têm sorte por possuírem clorofila.


Lugol nos meus pés.



quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Nesta abstinência criativa só me ocorreu de escrever fatos que não interessam a ninguém por aqui.

Mas de qualquer forma fica registrado que eu tentei.




Ah, façam uma coisa: off with their heads.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008


" E se o tempo passar e nos tornarmos estranhos um ao outro, mas uma noite você deitar a cabeça no travesseiro e sentir saudades minhas, não quero que se sinta mal. A vida é um ciclo após o outro, é assim que as coisas são. Não se sinta sozinha, pois uma parte do meu coração ficou aí, condensada nos teus poros, no brilho dos teus olhos e na tua voz bonita de telefone. Uma parte minha ficou contigo, uma parte que eu nunca mais terei de volta..."






Algumas coisas deveriam nascer e morrer e ficar só contigo.


Vem e curte, meu amor, ao som do estalar da minha coluna angulada...

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Natureza-morta

Alguma coisa aconteceu hoje... Não só a minha pele escamosa e ressecada que deixei na beira do rio para tomar um banho gelado e neutro, acho que o ar. Não só as unhas dos pés coloridas ou a nudez na frente do espelho, o mundo está mudando. E a água é tão densa e me transporta... O som propagado em suas moléculas mais unidas é tão engraçado... estou afundando. Ainda posso ouvir alguém gritando, mas só acho tudo engraçado e vou me deixando ficar cada vez mais molhada e envolvida pelas clorofíceas que eu amo tanto. Me sinto feliz como nunca me senti antes.




Lá, aonde o Peão se refestelava no deserto, eu vi que caiu alguma coisa. Nem procurei saber o que era, deixo as coisas caírem quando querem cair, deixo elas morrerem, como a pomba que se suicidou contra o vidro do prédio enquanto eu estava atravessando a rua. Deixo as coisas irem, e fui junto com a água pro ralo de qualquer dimensão que esclareça melhor os fatos. E aqui, aonde ninguém me vê, eu te vejo, meu bem. Esta visão privilegiada que conquistei com tão pouco oxigênio. Cabelo, espinhas, dedão machucado, posso ver tudo agora. Me sinto bem melhor, e posso dormir, finalmente vencer a insonia que veio junto com a ansiedade da trompa mal configurada.





quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Se é para acabarmos em discussões inócuas e insolúveis, pois vamos à elas.

Meu baço dói porque sou uma junkie fora de moda e sem noção do perigo. Meus arranhões se devem à unhas futuramente esmaltadas que agrediram meu nariz irritado com os ácaros desta poeira cintilante. Os roxos, não sei explicar. Só as hemoglobinas podem te dizer por que resolveram morrer acumuladas por aqui...

Não gosto de me lacerar, meu bem, não sou planária. Mas tens de entender que meu pacote é um risco, conhecer a dualidade do meu elétron perdido em camadas ou em anos-luz pelo espaço. Faço parte de um mundo engraçado e doloroso. Meu jardim é obscuro e irremediavelmente perfumado e meus defeitos são a parte mais atraente da aposta...