sábado, 1 de novembro de 2008

Tinha um tempo, lá naquele deserto fim-de-mundo e campina que eu morava, parede no chão de terra batida, eu sentava na janela e via as luzes no horizonte do meu aneurisma e me sentia muito melhor por ser louca e segura no meu mundo alucinado. Falar sozinha não era nada para uma criança perturbada, ver pessoas e duendes. Eu me sentia muito bem insana e vivia assim, doidamente bem.

Racionalidade não foi um bom presente da adolescência, perceber que se é estranho e deslocado. Mas considero ter me adaptado e meus genes foram selecionados, pelo menos passei o nível. Bom, aqui estou eu procurando motivos em plena fase adúltera. Se bem que isso faz mais sentido agora e andar nos trilhos dos trens é mais emocionante quando se está surdo.

Nenhuma flor se esquecerá do brilho dos meus olhos na primavera, nenhuma pedra se esquecerá do contato das minhas roupas velhas. Eu fui muito além da caroninha mística e eu fui muito melhor do que formas sem conteúdo. Eu sou essa aqui que bota medo, cabelos vermelhos e longos no vento, pernas lisas ao Sol, unhas pretas afiadas nas costas do mundo, colete aberto, seios à mostra e batom vermelho hermético nos lábios perfeitos. Sou aquela que perturba e que nunca nenhuma será tão bem quanto eu.

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